A visão apocalíptica de Gary Owen de um mundo onde a beleza é punida com a morte é uma parábola hiper violenta primorosamente escrita. Mas aquilo que a parábola diz sobre o nosso mundo não é, contudo, muito claro.
Estamos num mundo onde os belos foram perseguidos quase até à extinção – onde a beleza, ou "radiação", é tão temida que até os corpos não podem ser manuseados directamente ou vistos pelos "cidadãos" feios vulgares que os destroem. A maneira como os bonitos são sumariamente tratados é descrito com pormenor – tanto que algumas das pessoas do público saíram a meio da representação a que assisti.
A visão de Owen é tão absorvente como confusa. É como se eles nos tivesse conduzido a um quarto escuro e depois nos largasse a mão.
Embora formule alguns pensamentos importantes sobre a veneração da beleza e sobre as intenções da burocracia e o ódio que levam as pessoas a cometer actos bárbaros, as suas melhores ideias estão enterrados na densidade do texto.
As quatro personagens da peça são simpáticas e grotescas à vez. O melhor de Owen é quando mostra a facilidade como os nossos desejos de amor e contacto físico podem ser transformados em inveja, ódio e num desejo sádico de destruir o que não se pode ter.
Tara e Julian (Marian Araújo e Matt Torney), dois belos escondidos do mundo, são descobertos pela oficial Kelly (Ruth McGill) que vê Julian e fica "infectada" pela sua beleza.
A fugir de Kelly e do esquadrão de polícia, Tara e Julian tropeçam no apartamento de Darren (Paul Reid), que há meses que não consegue sair de casa porque anseia estar na presença de algo belo. Meio-doido, convenceu-se que um "anjo", disfarçado de uma das muitas figuras bonitas de que se lembra constantemente, o virá salvar.
Tara e Julian acabam por confiar na ajuda de Darren.
Julian, a mais pura mas também a menos humana e complexa das personagens, confia nele imediatamente, enquanto Tara, a realista, permanece reservada. Os três formam uma união difícil.
As ideias mais poderosas no género da ficção científica mostram-nos o radicalismo lógico da nossa cultura e actuam como um aviso do que poderá vir a ser possível. A visão do mundo de Owen, nesta peça, é mais tortuosa.
Às vezes, esta visão parece ser uma pura inversão do nosso mundo.
Mas é esta simplificada noção de inversão – onde a beleza é destruída pela fealdade – que se perde e não ecoa completamente verdadeira. Há um sentimento de que Owen foi apanhado no seu mundo imaginário e de vez em quando se esqueceu de assentar as ideias em terreno firme.
O Mundo Submerso é uma peça dilacerante e a representação não apresenta falhas. A direcção de Wayne Jordan é também óptima e o seu espaço cénico simples e eficaz.
Mas ao mesmo tempo que nos desafia a pensar, perde a imensa força que podia ter, ao diluir uma mensagem poderosa numa mistura violenta de ideias.
Elizabeth McGuane, 6 de Março de 2005.
Estamos num mundo onde os belos foram perseguidos quase até à extinção – onde a beleza, ou "radiação", é tão temida que até os corpos não podem ser manuseados directamente ou vistos pelos "cidadãos" feios vulgares que os destroem. A maneira como os bonitos são sumariamente tratados é descrito com pormenor – tanto que algumas das pessoas do público saíram a meio da representação a que assisti.
A visão de Owen é tão absorvente como confusa. É como se eles nos tivesse conduzido a um quarto escuro e depois nos largasse a mão.
Embora formule alguns pensamentos importantes sobre a veneração da beleza e sobre as intenções da burocracia e o ódio que levam as pessoas a cometer actos bárbaros, as suas melhores ideias estão enterrados na densidade do texto.
As quatro personagens da peça são simpáticas e grotescas à vez. O melhor de Owen é quando mostra a facilidade como os nossos desejos de amor e contacto físico podem ser transformados em inveja, ódio e num desejo sádico de destruir o que não se pode ter.
Tara e Julian (Marian Araújo e Matt Torney), dois belos escondidos do mundo, são descobertos pela oficial Kelly (Ruth McGill) que vê Julian e fica "infectada" pela sua beleza.
A fugir de Kelly e do esquadrão de polícia, Tara e Julian tropeçam no apartamento de Darren (Paul Reid), que há meses que não consegue sair de casa porque anseia estar na presença de algo belo. Meio-doido, convenceu-se que um "anjo", disfarçado de uma das muitas figuras bonitas de que se lembra constantemente, o virá salvar.
Tara e Julian acabam por confiar na ajuda de Darren.
Julian, a mais pura mas também a menos humana e complexa das personagens, confia nele imediatamente, enquanto Tara, a realista, permanece reservada. Os três formam uma união difícil.
As ideias mais poderosas no género da ficção científica mostram-nos o radicalismo lógico da nossa cultura e actuam como um aviso do que poderá vir a ser possível. A visão do mundo de Owen, nesta peça, é mais tortuosa.
Às vezes, esta visão parece ser uma pura inversão do nosso mundo.
Mas é esta simplificada noção de inversão – onde a beleza é destruída pela fealdade – que se perde e não ecoa completamente verdadeira. Há um sentimento de que Owen foi apanhado no seu mundo imaginário e de vez em quando se esqueceu de assentar as ideias em terreno firme.
O Mundo Submerso é uma peça dilacerante e a representação não apresenta falhas. A direcção de Wayne Jordan é também óptima e o seu espaço cénico simples e eficaz.
Mas ao mesmo tempo que nos desafia a pensar, perde a imensa força que podia ter, ao diluir uma mensagem poderosa numa mistura violenta de ideias.
Elizabeth McGuane, 6 de Março de 2005.
Sem comentários:
Enviar um comentário