E estamos a uma semana da estreia. Ainda nos debatemos com os figurinos. Falta dinheiro para decidir o que devemos ou não comprar, mas com uma ajudinha dos céus lá conseguiremos,
I hope so...
Nem sempre foi fácil. Muitas vezes desesperámos. Com as dificuldades, os atrasos, as disponibilidades, os equívocos, o diz que disse, os maus feitios, os fantasmas, as televisões, as crises de choro, mas apesar de tudo isto, valeu bem a pena estarmos aqui a fazer um espectáculo a partir do nada. Um espectáculo do qual nos orgulhamos e que ainda agora começou a fazer-nos felizes. Espero com ansiedade pela estreia e pela oportunidade de o podermos mostrar em digressão por todo o país. Para já, temos a vantagem de o podermos fazer em qualquer lado, até numa qualquer sala de jantar.
Hoje terminámos as luzes. É o primeiro espectáculo que faço e em que as luzes e o som são operados pelos actores. E que bem que nos sabe que seja assim. Temos seis projectores e não precisamos de mais, gosto destes parcos meios, sinto-me em casa aqui. É um teatro feito à minha medida. Humano. Que bom sentir que há pessoas para ajudar a fazer furos nos tectos e a ir comprar buchas. Que bom saber que o actor que mais texto tem para dizer ainda tem disponibilidade para estar a segurar em projectores.
Hoje tirámos muitos minutos à última versão. A história está mais concisa, urgente, impressionante. Vital é também a representação destes actores e actrizes tão generosos. O texto é difícil de representar, é uma filigrana delicada que precisa de golpes de rins constantes, mas eles dão não só o seu melhor como nos mostram o melhor deste texto. Inesquecível a vibração do Guilherme, a intensidade da Helena, a subtileza do Rúben, a pureza da Oceana. Guardarei dentro de mim cada um destes ensaios, cada uma destas horas que passamos juntos.
Obrigado ao Luís Mesquita que nos ajuda nos figurinos e continua com paciência, mesmo depois de ter levado pontos num quisto, a vir aos ensaios e a assistir com interesse a esta história estranha de amores e responsabilidade, de segregação e esperança.
E ainda ao Rui Antunes que nos pintou o cenário de modo tão belo e dedicado, obrigado ainda pelo cartaz e pela ideia tão feliz das fotografias. E a toda a Guilherme Cossoul e ao Teatro Mínimo que nos têm apoiado na medida do mínimo possível...